segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ambigüidade é vicio de linguagem pelo qual uma frase é construída, involuntariamente, com mais de uma interpretação. (Leia também o verbete Ambiguidade do Glossário Gramatical.) Dizemos involuntariamente porque, em um texto literário, o autor pode deliberadamente possibilitar mais de uma leitura a determinada frase, o que deixa de ser vício. Veja este trecho, duplamente ambíguo, inspirado em artigo de jornal:
"Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto, amigo do senador Carlos Antônio, cuja ex-mulher o acusa de enriquecimento ilícito".
Desconhecemos quem é amigo do senador: o filho ou Rubens. Ficamos também sem saber quem a tal senhora acusa: o filho, Rubens ou o senador. Por outro lado, a múltipla ambigüidade só não atinge a "diretora", pois supõe-se ela não ter "ex-mulher". Se fosse diretor, teríamos mais um elemento vicioso, em conexão com "cuja ex-mulher". Resolvemos o problema conforme o que queiramos dizer:
Amigo do senador Acusado Construção
Filho Rubens "Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto; aquele, amigo do senador Carlos Antônio. A ex-mulher de Rubens acusa-o de enriquecimento ilícito."
Rubens Rubens "Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto, este último amigo do senador Carlos Antônio. A ex-mulher de Rubens acusa-o de enriquecimento ilícito".
Filho filho "Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto. A ex-mulher daquele, amigo do senador Carlos Antônio, acusa-o de enriquecimento ilícito".
Rubens filho "Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto, este
último amigo do senador Carlos Antônio. A ex-mulher do primeiro
acusa-o de enriquecimento ilícito".
Filho senador "Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto. O senador Carlos Antônio, cuja ex-mulher o acusa de enriquecimento ilícito, é amigo do demitido".
Rubens senador "Diretora da Branofol demite filho de Rubens Galicanto. O
senador Carlos Antônio, cuja ex-mulher o acusa de
enriquecimento ilícito, é amigo de Rubens".

É preciso estarmos atentos à construção de orações para evitar ambigüidades. Há certas palavras perigosas, com as quais devemos tomar bastante cuidado para não incorrermos nesse vício, especialmente possessivos (seu, sua). Em "Celsinho, a Letícia veio com seu pai", não sabemos de qual dos dois é o pai. Resolvemos facilmente o problema dizendo "Celsinho, a Letícia veio com o pai dela" ou "Celsinho, seu pai veio com a Letícia", conforme o que pretendemos dizer. Também merecem cuidado os relativos (que, cujo), como em "Visitamos a igreja do Carmo, a mais bonita da cidade, que data de 1735". O pronome relativo que se refere sempre a um antecedente. Acontece que aqui temos dois antecedentes expressos: "igreja do Carmo" e "cidade". Por isso, devemos evitar colocar mais de um antecedente diante de um relativo . Desfazemos a ambigüidade da frase invertendo a ordem das orações e mesmo dispensando o pronome: "Visitamos a igreja do Carmo - datada de 1735 -, a mais bonita da cidade" ou "Na cidade - datada de 1735 -, visitamos a igreja do Carmo, a mais bonita". A homonimia e a polissemia também podem causar ambigüidade: em "Talvez eu não amasse Cláudia", não fica claro se a forma assinalada refere-se a flexão do verbo amar ou amassar. Se a frase "As mudas chegaram" não estiver contextualizada, não sabermos se se trata de plantas ou de mulheres que não conseguem falar. (Ambos, casos de homonímia.) Em "Acadêmicos viram monólitos", caso de polissemia, há dúvida se a forma verbal é flexão do verbo ver ou virar. A substituição vocabular ou mudança na estrutura frasal resolverá o problema. O pronome possessivo seu - e suas variações - tem vários significados, ou seja, é polissêmico também. A ambigüidade, juntamente com a obscuridade, são inimigas da clareza, uma das virtudes da boa linguagem e necessidade no processo da comunicação.

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